terça-feira, 9 de setembro de 2014

'Nunca vi uma eleição como esta', diz cientista político e professor da UFRJ, Jairo Nicolau


Sob o impacto da ascensão fulminante da candidata do PSB, Marina Silva, nas últimas semanas, o cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Jairo Nicolau afirma que nunca viu um fenômeno similar em nossa história política: “Nas eleições recentes, e mesmo antes, nunca tivemos nada do gênero dessa ‘onda’ Marina. Em 15 dias, ela amealhou algo em torno de 38 milhões de votos. Foram quase 2 milhões de votos por dia”. Nicolau arrisca dizer que é alta a probabilidade de uma vitória de Marina, mas alerta para os riscos que a ex-senadora ainda corre, tendo que se expor a debates, críticas e questionamentos. “Ela está ganhando de 2 a 0 no segundo tempo, tem um time bom, está jogando melhor, tem mais torcida, mas tem que segurar esse resultado até o final da partida”, compara. No caso de Dilma Rousseff, o problema está no segundo turno: “Crescer e superar Marina, com esse forte antipetismo no ar, vai ser um enorme desafio para Dilma. O segundo turno é mata-mata. O eleitor zera o taxímetro. O PT vai ter que se organizar de outra forma”, pontifica Nicolau.

Marina Silva pode ser a próxima presidente do Brasil?

A probabilidade é alta. Eu acompanho eleição há muito tempo e nunca vi nada do gênero. É algo tão surpreendente quanto aquele 7 a 1 do Brasil e Alemanha. É totalmente fora dos padrões do comportamento eleitoral brasileiro. Mesmo se você lembrar, por exemplo, do Collor. Ele foi um outsider naquele momento, porque era filiado a um partido pequeno. Foi do PDS, depois se filiou ao PMDB, e depois desfiliou-se para entrar em um partido nanico, chamado PJ (Partido da Juventude). Trocou o nome para PRN e se candidatou à Presidência. A ascensão dele foi muito lenta, aconteceu em alguns meses. Virou um fenômeno de opinião pública, conquistou eleitores mais pobres, uma parte da classe média, e também do Nordeste. Nas eleições recentes, e mesmo antes, nunca tivemos nada do gênero dessa “onda” Marina. Em 15 dias, ela amealhou, nas minhas contas, algo em torno de 37, 38 milhões de votos.

Ela teve 19,6 milhões de votos na eleição de 2010.

Se a Rede tivesse saído e eu tivesse que apostar, em janeiro, projetaria que ela teria em torno de 20% a 25% dos votos válidos. Na estimativa que eu faço agora, excluindo os indecisos, ela estaria, hoje, com 37%, 38%. Os indecisos, brancos, nulos e candidatos dos pequenos partidos formavam 30%, e o Eduardo, 10%. Agora, eles somam 10%, e Marina, mais de 30%. Ela tirou voto de todo mundo. Fez com que a Dilma tenha, hoje, o pior desempenho de um candidato do PT depois de 2002. É algo realmente impressionante para 15 dias. Foram quase 2 milhões de votos por dia que ela capturou. Dilma perdeu. Aécio, então, nem se fala. Os pequenos, que chegaram a somar 10 pontos, estão praticamente reduzidos a resíduo.

Como avalia as últimas pesquisas do Ibope e do Datafolha? 

Acho que mudou pouca coisa, Dilma não cresceu, nem Marina. Elas apenas oscilaram na margem de erro. Mas a polarização é clara. Dilma parece ter se ancorado num patamar de votos válidos de 35% a 40%, o que lhe garante lugar no segundo turno. Para Marina, o desafio agora é saber se ela já atingiu seu teto de votos no primeiro turno, um teto que não é baixo, e se consegue se manter ali para evitar o risco de cair e ver o Aécio voltar a crescer e ameaçar — o que é pouco provável, mas não impossível. Fazendo paralelo com um jogo de futebol, Marina está ganhando de 2 a 0 no segundo tempo, tem um time bom, está jogando melhor, tem mais torcida, mas tem que segurar esse resultado até o final da partida. Esse é o desafio dela agora, que pode se complicar porque ela está tendo que se expor, sendo criticada e questionada. E uma parcela significativa dos eleitores dela, que tem curso superior e quer uma nova política, e que migrou de maneira fulminante para Marina, vai querer saber quais são os programas, as ideias, o que ela pretende. Esse eleitor quer mais. Marina vai se expor, vai a debates, será criticada. Há uma série de críticas que vão aparecer, medos, coisas do gênero. Quando se embarca em uma onda emocional, não se pensa muito, as pessoas votam na Marina porque ela é moderna. Mas ela já recuou em alguns aspectos. De repente, o sujeito vê que estava embarcando no moderno, mas não era bem isso.

E a situação da presidenta Dilma Rousseff?  


O grande desafio da campanha de Dilma será o segundo turno. O sentimento anti-Dilma é muito forte, se agravou bastante desde 2010, e a campanha do Aécio Neves concentra muitos votos desses eleitores antipetistas. No segundo turno, eles tenderão a migrar para Marina. Crescer no segundo turno e superar Marina, com esse forte antipetismo no ar, vai ser um enorme desafio para Dilma. O primeiro turno é por pontos corridos, o segundo é mata-mata. O eleitor zera o taxímetro. O PT vai ter que se organizar de outra forma.

Qual a ligação entre votos brancos, nulos, os indecisos, eleitores do Aécio, dos nanicos, e a ascensão da Marina?

Acho que os nacos que ela tirou são diferentes. Por exemplo: Rio e São Paulo estavam com 30% de eleitores dispostos a votar em branco e nulo na última pesquisa, antes da morte do Eduardo. O que já era algo espetacular, muito alto. Nas últimas eleições, os brancos e nulos ficavam na faixa de 10%. Quando o horário eleitoral começava, entre 8% e 10% das pessoas diziam que iam anular o voto. Agora, a média era de 15%, mas, no Rio e em São Paulo, estava em 30%. No caso de São Paulo, o eleitor tradicional estava acostumado a ver uma polarização entre PT e PSDB, mas com um candidato a presidente tucano de São Paulo. Desta vez, não tem paulista na disputa. O candidato Aécio não teve tempo de se fazer conhecer em São Paulo. O eleitor do Rio e de São Paulo, que dizia que iria votar nulo e branco por desconhecimento, era antipetista, mas não conhecia direito nem o Campos, nem o Aécio. O Aécio teve interrompido seu processo de ascensão, sobretudo nas cidades médias do Sudeste para o Sul, onde o PSDB sempre foi muito bem desde 2002. Tudo indicava que, no mínimo, o PSDB empataria em São Paulo, com chances de vencer. Agora, está em terceiro lugar.

Mas as pesquisas indicam que o PSDB ainda está muito forte em São Paulo, deve eleger facilmente Geraldo Alckmin e José Serra.

O eleitor tucano de classe média, por alguma razão, antes de se transferir para o Aécio, migrou para a Marina. Isso aconteceu em outros estados, principalmente nos do Sul. É um fenômeno de opinião pública, que nunca aconteceu. Não só pela ascensão enorme, como pela velocidade. Todos os processos de expansão eleitoral que eu vi no Brasil foram mais graduais do que esse.

A comoção com a morte de Eduardo Campos contribuiu?

Acho que é um exagero essa avaliação. É claro que, pelo fato de ele ser um governador de um estado importante e um candidato competitivo à eleição presidencial, e a forma trágica como tudo aconteceu, acabou tendo um destaque grande na cobertura da imprensa. Eu não me lembro, nos últimos anos, de ter visto o velório de um político brasileiro que tenha mobilizado tanto. É um fenômeno... a própria cobertura da televisão, as redes sociais, a forma como tudo aconteceu, surpreendendo a todos. Ele dá uma entrevista no “Jornal Nacional” e, pela primeira vez, tem uma audiência de massa na campanha. No outro dia, de manhã... A Marina não fez nada para crescer assim tão rapidamente, ela nem teve tempo. Na verdade, teve a memória de seu desempenho em 2010. Mas é um paradoxo inacreditável. Como uma mulher que, em outubro do ano passado, não conseguiu registrar 500 mil assinaturas para organizar um partido, consegue 38 milhões de votos? É algo chocante para todos os parâmetros razoáveis. Enquanto ela não conseguia oficializar a Rede, o PEN, que é o Partido Ecológico Nacional, conseguiu. O que é o PEN? O Solidariedade também conseguiu, o Pros...

Dá para apontar uma causa para o crescimento da Marina, além dos 19,6 milhões de votos que ela teve em 2010?

É difícil de explicar. É um fenômeno que acontece, exclusivamente, na eleição nacional, não se reproduz nos pleitos estaduais. Independentemente da avaliação que se faça da Marina, das suas ideias, do que ela simboliza, há um fenômeno de contágio de opinião pública, epidemiológico. Uma coisa de “meme”, para quem acompanha as redes sociais. Ela encaixou um sentimento de insatisfação com o governo do PT. É um fenômeno muito pouco refletido, com um forte componente emocional. Não vejo uma reflexão, as pessoas pouco conhecem o que a Marina pensa do mundo.

Mas as pessoas têm uma imagem da Marina... 

Têm. É um clichê a respeito dela, de que ela representaria uma nova política, uma política diferente. Uma mistura de correção pessoal com ideias novas no campo ambiental. Tem um clichê de sua biografia, que já tinha sido veiculado em 2010. Isso estava adormecido? O que foi isso? Mas acho que tem um fenômeno emocional, de contágio, que não está necessariamente associado à morte do Campos. Havia, no eleitorado, uma acolhida para alguém diferente, com esse perfil.

Quanto do sentimento anti-Dilma está nisso?

Se a gente lembrar daquela teoria dos conjuntos matemáticos, há várias interseções. Por exemplo, uma parte do voto anti-Dilma mais forte, que estava com Aécio, foi transferido, por razões muito simples. É um voto útil: Marina tem mais chances de derrotar Dilma. E parte da elite está embarcando na Marina como alternativa com condições de vitórias. Não acho que ela tenha tirado votos da Dilma. Ela pegou um sentimento anti-Dilma dos indecisos e do Aécio.

Dilma já está em um nível histórico mínimo de votos?

Ela está abaixo do que o Lula navegou, em 2002 e 2006, desde que o horário eleitoral começou, e que ela própria navegou, em 2010 — quando começou o horário eleitoral, na faixa dos 40% (dos votos válidos). Agora, tem a chance de ela embicar para baixo, chegando aos 35%, voltando para um patamar mais próximo do PT de 1998.

E o Aécio Neves, como fica?

O Aécio tem, hoje, pouquíssimas chances. Para o PSDB, este momento é um desastre total. Mas o partido ainda tem ambições de fazer uma boa bancada e, provavelmente, será decisivo para a base de sustentação de um eventual governo Marina.

O que PT e PSDB poderiam fazer para virar esse quadro?

O Aécio conseguiu abrir dez pontos em relação a Campos, estava administrando razoavelmente bem, mirando para cima. E o PT logo percebeu que disputaria o segundo turno com ele. Agora, os estrategistas dos dois partidos não têm saída, só bater na Marina. A probabilidade de uma vitória da Dilma sobre a Marina é baixa. Não diria que é impossível, mas, em termos de probabilidade, é muito pequena. A rejeição dela é muito grande, e o voto do Aécio no segundo turno irá quase todo para a Marina. Um dado interessante desta eleição é que, ao contrário do que aconteceu com Brizola em 1989, e com Garotinho e Ciro Gomes em 2002, os votos do terceiro colocado não irão para o PT no segundo turno, porque Aécio representa o voto anti-Dilma.

E a propaganda negativa, as denúncias?

Eu acho que Marina vai sofrer um ataque pesado, não tem como não sofrer. Da blogosfera petista, da máquina petista, dos partidos da base governista que estão bem alocados. De milhares de pessoas que estavam razoavelmente tranquilas e cujas vidas não mudariam caso o PT se mantivesse no poder.

Marina falou que vai convidar PSDB e PT para compor seu governo, mas não o PMDB. É possível governar sem o PMDB?

Acho difícil. Historicamente, o PMDB é um partido que se divide. Ele sempre entra com uma ala, e a outra fica na oposição. O partido pode não entrar no governo, mas algumas lideranças, sim — Pedro Simon, Jarbas Vasconcellos, Geddel Vieira Lima. Acho difícil ela falar que não vai aceitar peemedebistas. O que vejo mais parecido com o que pode ser o governo Marina é o governo Itamar Franco. Um governo de centro-direita, com setores da esquerda. Por exemplo, o Itamar puxou a Luiza Erundina, ela foi expulsa do PT por ter sido sua ministra. Vai ser um governo com PSB, PSDB, DEM, alas do PMDB. Mesmo assim, provavelmente, um governo de minoria.

O PT aceitaria o convite?

Acho que não. Marina provavelmente atrairá muitos técnicos do PT, pessoas que estão em Brasília, à frente de programas, projetos, técnicos competentes do partido que devem continuar por razões até de oportunidade. Como uma ex-egressa do PT, ela tem contatos no partido. Agora, não acredito que o partido, formalmente, participará do governo. Porque ainda tem um mês de campanha, mais o segundo turno, quando a tensão, os conflitos, os ódios e as rusgas vão se aprofundar. Ainda que ela seja uma ex-petista, hoje ela é a principal adversária, e vice-versa. No final de outubro, a relação vai estar totalmente esgarçada, é inevitável. Com o potencial, sempre, da volta de Lula em 2018, é mais razoável o PT apostar e ir para a oposição, esperando quatro anos. O problema é que a minha expectativa é de que o PT saia muito mal dessas eleições. Pode se salvar um pouco em Minas, mas deve encolher sua bancada na Câmara, no Senado e em muitas assembleias. Há muita rejeição ao PT.

O PSB parece que não está se beneficiando da “onda” Marina... o partido corre o risco de não ganhar nehum governo estadual. Aparentemente, o fenômeno Marina não se reproduz nos estados.

Pela primeira vez na história, o PSB possivelmente vai reduzir sua bancada. Ele é o único partido no Brasil que sempre aumentou sua bancada na Câmara em relação à eleição anterior. Sem Campos, ele não tem aquela força. Nas eleições estaduais, deve acontecer o de sempre. O PMDB vai crescer sua bancada, porque tem muitos candidatos a governador, e a gente vai continuar nesse cenário da hiperfragmentação, com partidos com 25, 30 deputados. O PSDB deve aumentar, vai voltar para um patamar mais condizente com seu tamanho. Deve somar, nacionalmente, uma bancada maior do que tem. Mas os demais partidos não vão ficar muito diferentes. O PT está perdendo para a oposição e vai ter que se reconfigurar internamente e fazer sua autocrítica, apostando em 2018.

No programa de governo da Marina, algo lhe chamou a atenção?

A política econômica é muito semelhante à do PSDB. Tem um ponto ou outro de políticas públicas, mas não tem nenhum diferencial significativo. Desde o governo Lula, a gente discute mais programas do que projetos. Não se fala em projeto de desenvolvimento, projeto para a educação. O que temos são programas. Acho que o programa de governo do Campos foi desenhado lá atrás por alguns técnicos de partido, com ideias socialistas. Só que, agora, o programa passou a ser algo que as pessoas vão ler. Em nenhuma outra eleição as pessoas tiveram tanto interesse em ler um programa como terão, agora, com o da Marina, porque ela nos colocou nessa incerteza total do que ela é. A gente entrou em um território de muita incerteza, em termos de ideias.

Dá para dizer se a Marina é de esquerda, direita ou centro?

Não acho que ela seja uma pessoa de direita. Ela veio da esquerda, militou no PT a vida inteira, mas, desde que saiu do PT — e não tem muito tempo, foi em 2009 — tem procurado um espaço. Buscou abrigo no PV e não conseguiu ficar. Quis organizar a Rede e não conseguiu. E buscou o PSB por uma pura estratégia de viabilizar seus quadros, de modo que os candidatos ligados a ela pudessem se eleger e criar uma base mínima. A ideia era muito mais fortalecer a Rede para, depois, ela ter um partido, do que propriamente uma vitória. Não acho que seja de direita, mas terá que fazer um governo de centro-direita. Talvez, com um diferencial de uma agenda com temas ambientais. O meio ambiente nunca foi o tema central do PT, que sempre foi um partido desenvolvimentista clássico, com o tema ambiental entrando pela lateral. Talvez, ela possa, em uma política pública aqui, outra acolá, colocar essa marca ambiental. Mas, seu governo deve ser parecido com o que seria um governo liberal na economia, conservador nos costumes e progressista nas questões ambientais. Pelo menos são os sinais que está dando.

E a resistência do agronegócio? 

O agronegócio encontrou no Aécio seu candidato mais natural, outra parte foi acolhida no governo petista e Marina deu declarações fortes. Acho que eles não odeiam, mas não têm simpatia por ela. O que ela poderia fazer? Um presidente pode muito pouco. Mandar uma lei proibindo o alimento transgênico? Isso é com o Congresso, que no Brasil é de centro-direita. Ela não pode muito contra o agronegócio.

Marina é a “nova política”?

Não se faz uma nova política sem um novo partido. Talvez se a Rede tivesse se viabilizado com uma agenda nova, quadros novos, fazendo bancada... O que percebo é alguém que encarnou essa renovação da política, mas não tem o lastro do carisma e do que ela representa. O Lula, por exemplo, sempre foi muito maior que o PT e conseguiu se comunicar com a sociedade de maneira muito mais eficiente do que o partido. A Marina é uma figura que acentua esse aspecto da renovação, mas o que me preocupa é que ela subiu sem nada embaixo. Para mim, é muito sintomático que ela não tenha conseguido organizar a Rede. É uma expressão de inépcia política não conseguir 500 mil assinaturas para registrar um partido no Brasil. Marina não tem um movimento, e as renovações da política acontecem com movimentos. Acho que ela está chegando à Presidência em função de um sentimento geral de insatisfação com o governo que aí está, sem que a população tivesse tido chances de conhecer outras alternativas. Acho que ela é uma candidata que vai se cercar de quadros bons, terá de fazer aliança com quadros tradicionais, mas não tem o lastro da renovação.

Beto Albuquerque, vice de Marina, defendeu que a população vá às ruas pressionar o Congresso pela reforma política. Isso é viável?

Não é viável. Eu quase diria que é patético. Primeiro, a população não vai para a rua por esse exemplo particular. A população só vai para a rua discutir reforma política quando isso envolve a corrupção. Foi assim na Itália e no Japão, em 1993. São os únicos exemplos que eu conheço, em um regime democrático, para a reforma política. Temas da reforma política são técnicos, envolvem uma discussão ouvindo especialistas. É o mesmo que pedir à população para ir às ruas pela reforma tributária. Exige um conhecimento técnico-orçamentário. Acho isso uma fantasia. A população brasileira não tem esse hábito de pressionar Congresso nenhum para tema nenhum. Se, eventualmente, em um tema chave, tivermos que fazer algumas passeatas, como os cariocas fizeram para o pré-sal, e os evangélicos por uma lei das células-tronco, é da vida. Agora, pressupor uma mobilização permanente, não cabe no modelo democrático brasileiro. É uma tolice achar que, para o governo ser eficiente, você tem que criar uma espécie de democracia de ruas. Nem o Lula tentou isso.
O horário eleitoral gratuito no rádio e na TV ainda tem peso na eleição? Dilma tem 5,5 vezes mais tempo do que Marina...
O horário eleitoral fixo, que é o latifúndio da Dilma, de 12 minutos, praticamente não está sendo mais assistido pela população. No começo dele, bateu 30 pontos de audiência, 10 abaixo do que a última eleição. Agora, quatro anos depois, muito mais gente tem TV a cabo, Netflix, banda larga em casa, formas de pensar uma utilização do tempo que não seja ficar diante da TV. O formato do programa se exauriu, não está mais funcionando como canal de comunicação. Diferentemente daqueles spots de 30 segundos, que passam em meio à programação normal, que têm uma utilidade, de fazer com que candidatos sejam conhecidos pelo eleitor. Por exemplo, o Miro Teixeira, que eu achava que não seria mais candidato, de repente, no meio do futebol, da novela, entra o spot do Miro, com seu número. Aí a pessoa descobre que ele veio a candidato. Para o PT, que tem que enfiar a Dilma falando coisas em 12 minutos, um tempo gigantesco, esse horário rígido não irá reverter o cenário. O que poderia reverter é o contencioso: a Marina ter que se explicar, participar dos debates e não ir bem. Para o segundo turno, o PT tem uma expectativa muito grande de que a Marina deslize, por ambas terem tempos iguais no rádio e TV. A Dilma teria muitas coisas para mostrar, e Marina, não. O problema é: o eleitor já conhece os programas e está avaliando o governo mal. Uma parte da população não quer mais esse governo. Cansou, por uma série de razões. Com a economia parada, o governo mal avaliado, o PT está muito queimado.

O PSDB vai embarcar no governo Marina, se ela ganhar? 

Não tem outro jeito. O PSDB acaba se não for para o governo da Marina. Apesar de ter São Paulo, deve perder o governo de Minas, e isso já é um golpe muito forte. Do ponto de vista político, o PSDB sai arrasado. Mas pode fazer uma bancada de 50 a 60 deputados federais. E Marina vai precisar de centenas de técnicos para fazer a máquina andar. O PSDB tem esses técnicos em seus quadros, nos estados. Acho que o PSDB vai em peso para o governo, como base de sustentação, e vai querer influenciar nas decisões./ Colaborou o estagiário João Soares

Brasil Econômico

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